A UM AUSENTE
 Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar. 
Houve um pacto implícito que rompeste 
e sem te despedires foste embora. 
Detonaste o pacto. 
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver 
e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo 
sem consulta sem provocação 
até o limite das folhas caídas na hora de cair. 
 Antecipaste a hora. 
Teu ponteiro enlouqueceu, enlouquecendo nossas horas. 
Que poderias ter feito de mais grave
do que o ato sem continuação, 
o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar 
porque depois dele não há nada? 
 Tenho razão para sentir saudade de ti, 
de nossa convivência em falas camaradas, 
simples apertar de mãos, nem isso,
 voz
modulando sílabas conhecidas e banais 
que eram sempre certeza e segurança. 
 Sim, tenho saudades. 
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto 
nas leis da amizade e da natureza 
nem nos deixaste sequer o direito 
de indagar
porque o fizeste, 
porque te foste
 Carlos Drummond de Andrade
 

 
 
Lovely, greeting from Belgium
ResponderExcluirBlog mia citta, Mons Belgium, http://louisette.eklablog.com
Greetings to the people of Belgium
ResponderExcluirCheck back often!